domingo, 20 de novembro de 2016

Sylvio Ayres de Lima, o barbeiro


Sylvio Ayres de Lima, nascido em 6 de novembro e batizado em 8 de dezembro de 1908, filho de Gervásia Ayres de Lima e José Ayres de Lima, o Trançador-filho. Seus padrinhos de batismo foram o tio Josino Lopes (de Faria), meio irmão de Gervásia e Francisca Brochado. Aos 14 anos já trabalhava no Palace Hotel fazendo café. Ele era o... "cafeteiro" do hotel. 

A partir deste tempo, ninguém em casa de vó Gervásia fazia um café tão gostoso, lembra a irmã Célia, que era"mimada" pelo irmão, quando se hospedava na casa da mãe. Recebia café na cama. "Melhor do que esse, só no céu", afirmava.




Seus avós e bisavós


Sylvio foi neto pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e  José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897), que emprestou ao Bairro de Caxambu o seu apelido. Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875) e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que  foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontrado. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Sylvio): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.


Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ele foi neto de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneto de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... Joao José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio foi enterrado lá, no ano de 1875.

Barba, cabelo, bigode e... injeção 

Silvio aprendeu a profissão de barbeiro também cedo. Cortou cabelo a vida inteira atendendo 3 gerações, nas barbearias da cidade de Caxambu, mesmo depois que se aposentou. Tinha um grande coração e espírito caritativo, contou a sua irmã Célia Ayres de Lima. Tirava até bêbado da rua.  Era daqueles que sabia aplicar injeções, além de cortar cabelo. Não tinha hora, nem lugar, nem  mesmo nas altas horas da madrugada. Um dia de intensa tempestade, ouviu bater em sua porta, ali na rua Quintino Bocaiúva. Era Terezinha, filha do pipoqueiro da cidade, o Seu Dodô. Ela veio pedir em "pelo amor de Deus" para que Silvio aplicasse uma infeção no seu pai, que sofria de um câncer.

O seu robby era caçar passarinho e ele gostava do avinhado, ou curió. Até hoje posso vê-lo  passeando  pelas ruas com a gaiola, como  hoje se passeia com cachorro na coleira. Ia até o bar do Serabion, um estabelecimento do lado da Casa Armenia, onde pendurada a gaiola na parede (tinha os pregos ja preparados para ele) e sentava para ouvir o "duelo" dos passarinhos, trazidos pelos outros vizinhos, seu Chiquinho e Pintinho.

O tio Sylvio era completamente da paz e ja  salvou sobrinho de enrascada. Um dia, Edson Rodrigues filho de Maria, alterado pelo teor do álcool no sangue, arrumou encrenca com um rapaz na cidade de Caxambu. No bate boca, todos foram parar na delegacia, inclusive o tio. O delegado alterado disse. "Moço, se acalme. Só não lhe prendo por consideração ao Seu Sylvio".

Ele era digamos, "eclético" no que diz respeito a suas crenças religiosas. Um dia recebi de suas mãos um livrinho com os Orixás, deuses africanos, da religião Umbanda. Mas na vida frequentava o Centro Espírita de Caxambu. Tinha uma amizade colorida com Pinduca, diziam que ela era "mulher da vida". Silvio zelou por ela na sua velhice, assim como cuidou de sua mãe, a vó Gervásia até os seus últimos dias de vida.

Excêntricas teorias sobre "as coisas que bóiam" e o caso da dentadura

Silvio Ayres em frente a casa, na Rua Quintino Bocaiúva
Silvio tinha umas "excêntricas teorias". Se o resultado  do que você deixou lá no toalete "boiasse", você estava saudável. Caso contrário, se a coisa "afundasse",  você teria algum problema de saúde. Bem... Depois de ouvir essa, quando criança não deixava de olhar para o fundo do vaso para conferir a "minha saúde".

Num dia de verão, o Silvio Diório, sobrinho, conhecido por Silvinho,  resolveu fazer um churrasco para comemorar o aniversário do primos Edson e Solon Soller num 25 de outubro. Bem, lá foi a parentada. No carro do Edson embarcou a família toda, Edilma Cunha, as crianças, Gervásia Williamson, Andrea Rodrigues e Valéria Rodrigues.  E claro, o tio Silvio, na frente. Todos rumo à Soledade de Minas. Chegando próximo à fazenda, numa curva e lombada ao mesmo tempo, veio um carro em direção contrária (as estradas eram estreitas) e... Bum! Colisão de frente. O carro oposto? O do primo Solon. Como a cerveja encomendada estava atrasada, ele resolveu ir busca-la pessoalmente. Os dois veículos não trafegavam em alta velocidade, até porque as condições da estrada não deixavam, e o estrago não foi lá tão grande, apenas o susto da batida. Subiu sim um poeirão  e ninguém via mais nada. Na confusão de sair dos veículos, ninguém enxergando ninguém, procuram pelo tio Silvio. Onde? O tio estava debaixo do banco do carro. Suspense... Tio o senhor esta bem? E obtiveram  a resposta: -Claro que estou bem, só estou procurando a minha dentadura.

Um sonho

Silvio faleceu em 14 de maio de 1990, de pneumonia, na Santa Casa de Caxambu, solteiro e sem descendência, mas um dia, em um sonho, Célia reencontrou seu irmão, relata. Ela se viu sentada na escada da varanda da casa de sua mãe, quando ele apareceu encostado no portal. Trajava chapéu, camisa de meia manga e tinha uma palidez cadavérica. Ela o chamou para junto  de si e ele respondeu: "Não posso, onde estou estou bem". Tossia uma tosse seca, parecia constrangido e triste e mandou um recado para que o sobrinho Ozeas Brochado parasse de fumar.  Depois se despediu no sonho: "Cristo esta entre nós".

Agradecimentos: 

A Célia Lima Ayres/Araujo pelos seus relatos sobre seuu irmão, Sylvio.

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